Tailândia a norte

Depois do Japão, Linda George ganhou um companheiro de viagem – Tom. Juntos viajam e descobrem o mundo. Decidem uma viagem, os dias, procuram alojamento e o resto é seguir e deixar-se levar pelos imprevistos de quem viaja de mochila às costas.
- Nunca programamos muito, é mais excitante. Só queremos ter a certeza que temos onde dormir. Já aconteceu uma vez e não foi agradável.
As idas são sempre low cost. Há que  reservar a viagem e a guesthouse mais barata, mas com devidas condições.
- O resto vai acontecendo.
Linda estava a viver na Tailândia há pouco tempo. O país ainda era estranho. Tom marcou viagem para a visitar, mas Bangkok estava fora da rota, ele já conhecia e é uma capital. Ela vivia lá.
- Uma cidade muito cheia - comentou a nossa personagem. Charmosa, mas demasiado confusa e grande.
Então, Linda destinou a viagem até Chiang Mai, no Norte. Que destinos de praia para estes dois é coisa que raramente acontece. Assim sendo, a escolha foi terra de montanhas, de tribos a viver nelas e onde residem as tão famosas belezas do pescoço comprido. Long Neck tribes ou Hill tribes, como são chamadas em inglês. Aquelas tribos, na quais as mulheres vão acrescentando colares ao pescoço, aos joelho e à zona dos cotovelos. Trocam a cada cerca de dez anos, ... e só nessa altura vêem o próprio pescoço. A mulher que tiver o pescoço mais longo é a mais bonita lá da aldeia.
De observar que aquilo é coisa pesada e faz barulho ao andar. Aquele som de tilintar de ferro. Na verdade não é o pescoço que alonga, mas sim, o tronco que vai sendo puxado para baixo, por causa do peso exercido pelos anéis.
Linda tinha nos seus planos de viagem visitar tribos perdidas e nativas.
- Porque me aproximam da história, é como estar numa aldeia do neolítico – explicou-se.

Andemos para atrás até à chegada.
Os dois companheiros encontram-se no aeroporto. Uma festa de quem já não se via a algum tempo e de quem está excitado por mais uma aventura. Desta feita em terras da Tailândia.
Eram já cerca de onze e meia da noite. Arranjar um tuk-tuk até à cidade não foi fácil. Mesmo ali à porta do aeroporto. Os condutores a querem ser “chico esperto” e a cobrar bem para além da conta. Depois de muitas tentativas falhadas e as horas a passar lá se meteram num em direcção a uma guesthouse, que apenas tinham o nome, porque esta não aceitava reservas. O que estes dois artistas se esqueceram é que nestes países tudo fecha cedo... demais. E os hotéis estavam todos fechados. Sem mapa, perdidos e cansados, lá avistaram um hotel, um bocado acima do orçamento desejado, mas era uma cama para dormir. E a manhã despertava cedo, para ir desbravar as maravilhas  de Chiang Mai.
- Antes, claro, depois de um banho merecido, ainda tivemos tempo para umas cervejinhas e umas cigarradas – diz com ar de malandra.
Mas a hora de despertar foi pontual. Às sete e meia da manhã estavam prontos a rumar à dita guesthouse, de seu nome Julie´s Guesthouse. Um encanto de pensão. Gente jovem, uma entrada ampla, com sofás tailandeses – no chão com umas almofadas típicas – uma mesa de bilhar... e a recepção, com gente simpática e alternativa.
Marcaram um passeio, que incluía uma caminhada, uma visita às ansiadas tribos e uma noite numa das vilas da montanha.
- Pareceu-me um bom plano e esperámos pela partida.
Houve tempo para um pequeno almoço local: noodles – a massa deles –, uma sandes e um café.
O guia chega entretanto. Hora de partir. Um tuk-tuk mais moderno, mas com ar de que leva animais lá dentro. Um espaço pequeno que foi partilhado por cerca de 10 pessoas. E a viagem não era curta.
Naquele compartimento albergaram-se nacionalidades diferentes, o comum era serem europeus. Mas europeus daqueles que são todos loiros e de olhos claros. Dinamarca, Suécia, Alemanha. Todos a fugir para os Vikings. E Linda e Tom. Os outsiders, que não eram de lado nenhum.
- O mais engraçado foi quando estávamos todos pediram-nos para preencher uma espécie de folha de presença, com as devidas nacionalidades. Todos olhavam aquele que escrevia, para ver de onde era. Línguas estranhas, os suecos pareciam da máfia russa, mas não falavam russo. Os dinamarqueses pareciam nórdicos, mas Linda não fazia ideia que língua era aquela que ouvia. Mais tarde o grupo tem tempo e à vontade para conversar e desvenda-se o mistério de quem é quem.
A primeira paragem foi num jardim de borboletas, com umas flores bonitas, os respectivos insectos e só isso. A segunda foi o terror de Linda. Uma quinta de cobras, com direito a show de homens e a dita espécie animal e um arremesso de uma ao colo da nossa personagem, que soltou um grito na arena cheia de turistas, que foi coisa para uma risada geral.
- Lembro-me que havia um grupo, que seriam turcos ou do Dubai. Árabes com dinheiro, só para facilitar. Um grupo energético e alegre. Eles cantavam, dançavam... faziam a festa, atiravam os foguetes e iam apanhar as canas, portanto. Mas foi animação garantida. Fizeram-me esquecer do susto.
De esclarecer, que Linda tem uma fobia incontrolável de répteis e todos aqueles que tenham uma pele semelhante.
A próxima paragem foi no desejo de Linda. As mulheres do pescoço comprido.
- Estava ali a vê-las, a falar para elas, a observá-las. Confesso que até me emocionei.
A história destas tribos também tem drama. Este povo vive em território tailandês, mas não são de lá. São refugiados de Myanmar a quem o governo da Tailândia dá terra e eles estão ali para turista ver. Com as suas barraquinhas de artigos feitos à mão e a tecelar.
Mas o melhor é não analisar muito o assunto, para não lhe arrancar o romantismo. Linda frisou:
- Apesar de tudo, uma experiência daquelas... Estamos ali, sabes?! No meio deles, no meio daquilo que vimos em documentários ou lemos em livros. É uma sensação incrível! Povos que vivem muito mais longe do nosso mundo, do que se contarmos em quilómetros.




De seguida o grupo seguiu até ao local onde se iria almoçar e descansar antes da longa caminhada. Quatro horas a subir montanhas, a passar por rios e ribeiras, floresta densa e pequenas vilas plantadas no meio do nada. À frente e atrás dois guias, iam abrindo caminho com as suas catanas afiadas. Linda que gosta pouco de se movimentar, depressa se cansou. O homem atrás de si, agarra no pequeno tronco e ali lhe faz uma bengala, que a acompanhou até ao fim.
O grupo ficou maior. Havia agora uns turcos e uma holandesa. Um caminho longo, penoso, mas que valeu cada passo. No topo da montanha, uma casa de bambu, uma pequena povoação a viver acima do chão, do que a terra dá. Algum desenvolvimento chegou, como as motas e uma pequena amostra de um supermercado. A casa estava no topo da montanha, a vista perdia-se, o rio que se avistava confundia-se com as nuvens.
- De manhã ainda com nevoeiro, a paisagem estava linda, tudo se misturava, as cores, a paisagem. Lindo... é o que me sai.
O grupo ia dormir ali, uma divisão era a cozinha, do mais rústico e típico do que se possa imaginar. Uma lareira para aquecer, que no topo faz frio, e lume para cozinhar. A refeição estava óptima, o ambiente fascinante.
Numa parte do mundo onde electricidade não existe, não havia telemóveis, máquinas fotográficas ou mesmo luz. Iluminados pelo fogo e pela lua. O céu estava estrelado, limpo, quase que puro.
- Parecia que aquele céu nunca tinha sentido o efeito do desenvolvimento. Limpo.
Os meninos e as meninas à volta da fogueira iam aprendendo sobre cada um. Partilharam histórias, razões por estar ali e onde iam a seguir. Depois de uma aventura por trilhos e matos, a noite chegou de mansinho, tranquila a dar paz aos seus visitantes.
As camas estavam feitas, cada uma com os seus mosquiteiros. Um cenário idílico e romântico, que encantaram Linda e Tom.
- Espectacular Linda. Este teu plano está-se a sair bem.
A manhã acordou o grupo com o cantar dos galo e uma cama de chão a dar um jeito às costas. O pequeno almoço estava servido. Pão torrado, ovos, café e chá... reis e rainhas no meio do nada.
A primeira etapa estava cumprida. Faltava ainda dar uma voltinha de elefante e fazer um rafting em bambu e umas cenas no rio.
- Lá se metemos de novo ao caminho, para baixo foram só duas horas, acho. Mas havia quedas de água, lindas. Ainda parámos para um mergulhinho. E foi mesmo só um, que a água gela os ossos.
E chegaram à vila dos elefantes. Montar não é fácil, a caminhada também não é assim tão agradável, que aquilo abana e o animal é alto.
- Houve caminhos que eu achei que aquilo não era seguro e se a cadeira se solta a queda é grande e rochosa. Houve um elefante, com duas mulheres em cima, que se pôs a correr à maluca. Só se ouviam os gritos delas e o elefante lá ia... foi giro, mas digo que não foi das melhores coisas.
Já descer o rio foi uma galhofa. Linda e Tom juntaram-se a mais quatro tripulantes. O senhor que comandava ao barco explicou o que fazer e todos entenderam. Na hora de fazer o que era preciso, foi uma atrapalhação.
- O senhor bem gritava pelos homens, mas... acho que descemos o rio aos círculos.
Se fosse um teste estes seis elementos chumbariam, mas a diversão foi muita.
- Até o senhor comandante lançava gargalhadas. No final, todos se divertiram. Para terminar em tranquilidade descemos um rio mais sereno, numa jangada de bambu. Uns Tom Sawyers à tailandesa, com vista para a montanha que é um elefante. De explicar que para eles o elefante é um animal sagrado, tendo entre os seus deuses o elefante das três cabeças.
A viagem de volta à cidade foi pacífica, todos estavam exaustos. Para Linda e Tom aquela era a última noite. Restava uma saída até aos bares locais e seus mercados nocturnos, de manhã uma volta pelo centro. Para a tarde estava marcada a viagem de regresso.











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