Política politicamente incorrecta
Sonhara um
dia estar presente em momentos importantes da história, ou simplesmente de actos
que podem mudar cada um dos mundos. Quando de manhã saiu para ir trabalhar, não
imaginava o que ia assistir.
Num dos
regressos do trabalho, Linda desloca-se a velocidade lenta pelo trânsito, na
sua bicicleta pink. Naquele dia,
conta, ter pensado consigo mesma, como o trânsito estava um caos.
- Pensei, bem
é sexta-feira, talvez seja isso.
Furou por
entre motas e carros, achando que estava a ganhar terreno. Não podia estar mais
que enganada. O cruzamento que a leva a casa, liga ruas principais e estava
completamente intransponível. A barreira estava criada por um mar de motas e
uma imensidão de pessoas de pé nelas.
- Eleições!
– exclamou em desabafo. Era impossível passar, a única coisa a fazer era
esperar. Quando de repente ouvi:
- Democracy. You know? – disse-lhe o
senhor da mota ao lado.
- Sim, sei, meu senhor, gostava que vocês também soubessem e vivessem nela – pensou.
- Sim - respondeu.
- He is coming
back. Opposition. All waiting for him.
Mais
palavras foram impossíveis de trocar. Mas Linda George sabia que estava prestes
a presenciar o regresso do homem a um povo Khmer que precisa de ser salvo.
Sam Rainsy
esteve exilado por escolha... Um regresso ao Cambodja implicaria cadeia. Em
tempos de eleições, foi-lhe dado um perdão e permitido o seu regresso.
Vinte
minutos mais tarde, com o sol já a derreter qualquer pensamento, eis que surge
o homem de que todos esperavam. Vinha numa pequena carrinha branca, atolada de
gente a gritar “bram pee - sete” – número a votar. Ele parecia sereno e por
baixo dos óculos redondos e pequenos havia um olhar de alguém que regressa ao
ninho e vê um povo a recebê-lo.
- Imagino
que depois de anos, voltar assim seja algo que se sente – comentou.
Imprensa
internacional, uma multidão de cidadãos Khmers, uma onda de saudação e Linda.
- Contudo,
dizem que está proibido de se envolver na vida política e porque será?
Linda George
diz ter visto pessoas que o querem, como que a pedir uma mudança de 28 anos de
poder, daquele que é conhecido pelo mais antigo e rude líder asiático. Este
está tão seguro que vai ganhar, que nem à rua sai em campanha - de tão
confortável que se sente. Um dia disse que se não ganhasse fazia uma guerra. A
América diz que se ele não levar as eleições pelo caminho do voto livre, corta
os apoios ao país.
Algumas
pessoas afirmam que a comunicação social mente. Formatadas? Outras dizem que
podem haver problemas se o Primeiro Ministro não ganhar. Outras dizem ainda que nada muda, mesmo que mude a cara e o
partido.
O actual
líder é conhecido por ter feito parte do Khmer Rouge, que levou o Cambodja ao
inferno. Embora não haja conhecidos envolvimentos do seu partido em crimes
contra os direitos humanos, todos se queixam de corrupção. E está à vista, para
quem quiser ver. É só sair à rua.
Linda
presenciou um povo a pedir ajuda. O povo da província, vota no que lá está,
porque acham que o governo desenvolveu muito – as estradas. E como já foi
contado, algumas pessoas ficaram sem nada à custa de um desenvolvimento
rodoviário. Um exílio na pobreza e na ignorância é meio caminho andado para se
governar um país e não sair do poleiro.
Na cidade as
caravanas que apoiam o mais partido da oposição está nas ruas em força. Muita
música e animação é que se quer. Para dar um ar de campanha há umas bandeira,
uns bonés e uns autocolantes - o logótipo é um sol a nascer por detrás das
nuvens. O resto é uma tardada de música
alegre, com os tons locais e um Gangnam Style versão Cambodja 2013 – que sem
querer comparar, porque o original já é
por si uma coisa inaudível, esta, talvez por terem sido horas a ouvir, é ainda
mais irritante.
- O que é
certo é que foi uma festa até à noite, as pessoas até dançavam em cima das
motas e a conduzir.
A euforia da
oposição deixa mostrar o desespero de um povo pobre, que vive pobre e que sabe
que alguém enriquece à custa da sua pobreza e do seu futuro.
Alguém
comentou com Linda:
- Os pobres
querem mudança.
E os ricos?
Poder?
O actual
Primeiro Ministro prolongou o tempo que quer estar no governo, até ter 90 anos.
Ele é, sem dúvida, um homem poderoso no panorama político. Um poder que Linda
se pergunta de onde veio, tendo em conta o seu passado.
- Talvez não
seja difícil a resposta num mundo esquematizado por poder, dinheiro e alguém
que dê a cara – opina.
No dia 28
deste mês o povo vai a votos. O resultado é certamente o esperado... mas há
sempre espaço de mudança.
*O nome do
Primeiro Ministro não é aqui referido, por não ser permitido falar de política.
O engraçado foi um dia um apoiante ter dito a Linda, que este é um país
livre... mas não se pode falar de ou contra quem o lidera...
- E mais
fica à vossa consideração...
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