O bilhete de aviao só de ida


Estava cansada, estava mesmo a precisar de uma mudança. Os dias passavam-se aborrecidos e sem novidades. Os dias eram assolados por uma vontade de ir e nao voltar. Sempre a mesma sensacao. Entao decidi comprar um bilhete de aviao só de ida.
Tomei, assim, a decisao de trocar aquela rica cidade especial no sul da China, pelo susoeste asiatico. Ja o tinha feito uma vez, numa passagem pela Tailandia. Mas a azafama de Bangkok tambem nao era aquilo que procurava. 
decidi ir viver para um dos paises mais pobres do mundo, apontam. 
- Querem saber até onde viajei? Até ao Camboja.
Embarquei numa viagem ao coração do sudoeste asiático, para descobrir  o que esconde aquilo que se revelaria o misterioso Camboja.
Os meus amigos chamaram-me de louca, como sempre. Mas eu parecia estar convicta da minha decisao. Afinal tinha comprado um bilhete de aviao so de ida...


Aquela seria, nao a minha primeira viagem ao sudoeste asiatico, mas a primeira naquele pais, que me era tao desconhecido. A escolha foi aleatoria e as condicoes para o que ansiava na altura, cruzaram a minha vida naquele país. 

A primeira viagem a um reino encantado, que esbanja misticismo e se destaca pela beleza de templos seculares, Angkor Wat. Os templos que contam história, que tem cravados nas suas pedras o tempo e as diversas cuklturas que os criaram. Uma imensidao de misticismo, guardado pela natureza e pelos seus monges mais devotos. 

Infelizmente, a realidade nem sempre se fica apenas pela beleza. Sem se me ter apercebido, tinha escolhido viver num pais marcado pela guerra, por um genocídio. Ainda tao presente nas atitudes, na desigualdade e nos olhares perdidos na imensidao daquele reino.  



Ainda meio desorientada da viagem, sai do aeroporto e tentei encontrar quem me tinham falado que estaria à minha espera. Perdida entre pequenos pedacos de papeis com contactos anotados, envolta em bagagem e novidades percorri o estacionamento para ver se lagume erguia uma daquelas plaquinhas a dizer o nome. Nada. 
Bem, pensei. Comprei um bilhete de aviao so de ida. E agora?
Entre voltas e revoltas lá avistei, lá no final do estacionamento, um rapaz a acenar. Levada pelo instinto, apressei o passo. Finalmente encontrei quem estava à minha espera. 
Respirei bem fundo. Entrei no tuk tuk.
- Gosto tanto de tuk-tuks. Aquela corrida desconcertada! Passear pelas ruas, quase poder-lhes tocar, o ar puro no corpo. 

Contudo, as primeiras ruas que percorreu no Camboja não me fizeram sorrir. À mdeida que a viagem ia prosseguindo, uma gaonia tomava conta de mim. Meu Deus, comprei um bilhete de aviao só de ida!
Engoli em seco. Apercebi-me, naquela nao muito longa viagem até ao alojamento, que estava a pisar um solo pobre. 
Engoli em seco. Voltei a respirar. Como se a respiracao conseguisse acalmar o turbilhao de emocoes. Precisava de me controlar.
- Os meus amigos talvez tivessem a sua razao. 
- O que fiz eu à minha vida. 

Sempre que se chega a um sítio novo, e depois de algumas mudanças, este é sempre o primeiro pensamento. 

- Há que dar tempo ao tempo.

Há províncias por esta terra a fora, cuja principal actividade é a agricultura - tal como todo o país - onde as casas são feitas de bambu e estão acima do chão.
Um povo que não precisa de mesa para comer. Se há chão, porque não usar? Um povo que não conhece, o que ocidental chama desenvolvimento, um povo nativo, de vilas, tribos e fantasmas. Uma cultura abençoada por monges e por dádivas aos seus deuses budistas.

Os homens que escolhem uma vida em tons de cor-de-laranja e violeta, entre orações, passeiam-se nas ruas, vão a casa das pessoas para abençoar e receber um prato de comida. Os guardiões de Angkor Wat, capazes de viver em carne e curar em espírito.
Uma terra de reis e rainhas, de um lado francês e de uma lenta sobrevivência à guerra. De princesas bailarinas e de militares. Um reino que parece querer desenvolver. Um povo simples, que partilha e que agradece a quem vem ajudar o povo Khmer.


Comentários

  1. Bela descrição do Cambodja. Não vai ser a primeira nem a última descrição que vou ouvir desse país. Gostei!

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