Não se sabe bem...
Linda George
recorda agora o seu passado, numa tentativa de se perceber. O não saber de onde
vem, nem para onde vai, dá por um lado com, uma sensação de liberdade que não
se quer largar. Por outro lado, há um vazio que a invade, uma frieza que é
precisa, mas desnecessária.
Quando se
fala em raízes e família passada e futura, Linda fica com um olhar distante, no
entanto, tem um sorriso nos lábios. Intrigante. Estranho. Quem é ela?
Ela enuncia
histórias independentes, quando as conta parecem vir do nada. Mas, a convicção
com que fala, faz-me acreditar que esta mulher tem um seguimento, contudo, não
tem guião escrito. Tudo lhe está na alma.
Lembra
várias figuras do seu passado. Umas austeras, outras cómicas, outras que
envolvem a sua vida.
- Havia uma
vila, com campos de arroz.
E assim se
desvanece a conversa nas suas palavras.
Da família
pouco se lembra, amigos nunca teve muitos. Sempre foi “bichinho do mato”. As
pessoas, então, se forem muitas, assustam-na... a pulsação acelera e a cabeça
roda.
Uma infância difícil uma adolescência atribulada, uma nova etapa para se procurar. Uma vida
que me intriga. Sem entrar em pormenores algumas respostas são dadas. E entre
histórias sem nexo tento entender quem ela é.
- Em criança
tinha dois amigos invisíveis Naquela altura eram os meus únicos amigos. Ainda
me lembro dos nomes Séfora e Moisés. Adorava estes nomes. Soavam-me bem. Eles
eram namorados e a Séfora era motard. Um dia conheceu o Gaspar, o amigo invisível de um colega meu, pegou na mota e fugiu com ele. O Moisés ficou destroçado.
Aquilo era amor – soltou uma merecida gargalhada.
Dois, não
apenas um amigo inexistente. E tão presentes e com histórias reais de gente
grande. E aquela Séfora era uma grande maluca, enfatize-se. Uma mota, um
namorado e uma história de amantes fugidos. Que idade teria? Que idade teriam
os amigos?
Para Linda
George a dimensão tempo não existe. Tempo são números e ela não gosta nada de
números.
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