Uma saída à noite na capital, na sua
maioria combina com música pop, da mais comercial que anda por aí. Aqui, desde
miúdos a graúdos vive-se uma cultura do, agora tão afamado K-POP, Korean Pop. Que toca Gangman Style em coreano e Khmer, há
uma outra que é Gentleman, que tem uma relação qualquer com estilo anterior.
Linda não percebeu se é outra música ou o nome do dito artista. E claro, os grandiosos hits americanos.
- Os meus miúdos vivem naquilo. É o que
cantam e dançam. Na escola às sextas-feiras de manhã é dia de música e de
dançar e é esta a música que passa. Os miúdos ficam loucos, excitados e todos
dançam numa coreografia que parece ensaiada. Os movimentos estão lá todos.
- Fico estupefacta, confesso. Como é
possível darem isto a ouvir a miúdos de cinco anos. Noutro dia tive um aluno a
dizer-me:
- Teacher... you are a sexy girl!
- Sabes o que significa isso?
- Sei – respondeu confiante.
- Explica.
- Oh, não sei...
Apesar da nossa personagem querer ser
correcta e dizer que não devia dizer aquilo.
- No máximo, na idade dele, as meninas
são bonitas. Disse-me está bem. Logo a seguir vira-se para uma colega que
estava sem uniforme:
-
Hey, today you are sexy girl!
Linda conta que a pequena ficou deslumbrada
com o elogio.
- Podem não saber explicar, mas o sentido
está lá – comenta Linda.
Isto está em qualquer geração. Os adolescentes
vibram, os jovens e adultos partilham a vibração e a loucura.
Uma noite inesperada
Linda foi convidada para um serão de
comida mexicana, cerveja e boa companhia.
O seu amigo Wild Bill regressava aos Estados
Unidos dali a dois dias. Uma espécie de “até já”, que Bill lhe confessou levar
no coração. Um americano do Texas, um cowboy dos seus 65 anos, uma história de
vida, que o levou à guerra no Vietname, ao volante de aviões e a viagens pelo
mundo. Agora reformado, deixou a família a cuidar do seu “aligator´s ranch” e
anda a curtir a vida, literalmente. Um homem com uma abertura de mente, rara e
cada vez mais lúcida. Tem a idade de um jovem experiente na direcção que dá à
vida.
Uma noitada com amigos, boa conversa e
muita cerveja. Bill estava pronto para ser maroto, como gosta de dizer.
Depois do momento mexicano, uma voltinha
pelo Night Market, para digerir e aliviar a alegria da cerveja e comprar umas
lembranças.
- Aquelas tretas que se compram para se
levar à família para mostrar que estivemos lá – diz a nossa personagem sorrindo-se.
O rumo a seguir foi escolhido pelo Tony,
um outro amigo local, que geralmente acompanha Bill.
- Fomos até ao outro lado da ponte, à
Ilha do Diamante, como lhe chamam. Há uma espécie de parque de diversões à
beira rio, ideal para casais apaixonados e cerveja barata para os mais
festeiros.
O grupo de Linda é danado para a
brincadeira e ainda se beberam algumas jarras. Já tudo alegre, Tony
diz ter que regressar à base. Assim que o militar arranca, Kaheng liga a dizer
que acabou uma missão e está livre naquela noite.
Trocam-se os turnos, e agora é a vez de
Kaheng guiar os amigos ocidentais que queiram tanto dar um passinho de dança.
A noite bem bebida estava ao rubro. O
amigo levou-os a uma discoteca no River Side. Linda já estava à espera de uma
música qualquer da moda, mas que talvez a leveza de espírito a tornasse suportável.
Qual não foi o seu espanto, a música era boa. Uma mulher Dj a passar um som com
boa vibração. A nossa personagem deixou-se levar pelo som e dançou, dançou. No
meio houve gays do Vietname, como eles se apresentaram, a dançar à volta de
Linda e a desafiá-la para uns shots. No meio daquela animação, havia um outro
acontecimento a decorrer. Kaheng, o amigo local e certinho, que já deixava a
cerveja falar e estava a dançar. A nossa personagem conta ter sorrido. Ele
estava a divertir-se e havia miúdas a rodeá-lo.
- Afastei-me para apreciar o engate local
– gracejou. Ele mirava-as de alto a baixo, elas sorriam-se. O ego macho foi
aumentando e produzindo os movimentos sexy das coreografias pop. Uns movimentos
da anca, ditos sensuais, um braço esticado e o outro atrás com a mão a rodar. Ainda
lancei uma gargalha. Mas ele estava todo contente. Soltou a franga o menino
certinho! Mais tarde disse-me:
- Ah, ainda sei dançar melhor, aquilo foi
uma amostra.
A cultura pop não agrada à nossa
personagem, por isso não ficou muito entusiasmada em ver mais do que aquilo.
Contudo, houve uma surpresa naquela dança.
- Aqui a dança é baseada no movimento das
mãos. Uma vez Kaheng disse-me que os ocidentais se mexiam muito a dançar. Naquela
noite, ele esteve lá, naquilo que lhe dão a conhecer da vida ocidental. Mexeu-se
muito.
Enquanto isto se passava, Wild Bill tinha
encontrado uma esplanada, menos barulhenta, para beber umas cervejas e observar
as pessoas – coisa que gosta de fazer.
Os amigos foram ao seu encontro.
No grupo estava também um americano
hippie, oriundo da Virgina.
- Mais um queimado do cérebro pela
cultura U.S.A. – comentou Linda.
Este jovem estava a deitar a asa a Linda.
Kaheng segredou-lhe que ele a achava hot.
- Ele diz que te acha boa (em português),
deves ser bonita no Ocidente.
- Jovem, o significado de tal adjectivo
no nosso mundo, não significa beleza, mas sim que és boa para levar para a
cama.
- A sério? – perguntou o amigo meio
confuso.
Entretanto gera-se ali uma disputa de
galos. O americano desafia Kaheng a beber finos “a penálti”. As saudades de uma
branca confessadas e o álcool a falar mais alto - aí estavam os motivos para um
desafio digno de machos... depois de um não.
Que comece o duelo. Linda foi chamada a
júri.
- Kaheng bebemos este?
O fino estava a meio.
- Sim, fácil – responde o amigo tranquilamente.
E desta forma, também ingeriu o líquido, numa levada. Do outro lado, o concorrente reclama e desafia a outro, desta vez
cheio.
- Está bem, vamos a isto – continuando com
serenidade e confiança.
O resultado foi o mesmo. O mesmo
concorrente reivindica. E inventa mil e uma razões para a derrota. Um belo
discurso à americana.
- Não há duas sem três. Por isso, paremos
o desafio à terceira – desafia Linda o macho. Mais duas, por favor.
Entretanto discutem-se regras. Linda
declara-as, o americano já derrotado diz:
- Lá está o europeu a pensar – declarou.
E assim Linda ficou a saber o que os americanos
pensam dos europeus. Um povo que pensa.
A
terceira foi o aniquilar do pavão. Não tinha sido suficientemente macho para
conquistar a fêmea.
A nossa personagem também aprendeu que
estes jogos ainda se usam na hora do cortejo sexual do macho humano.
- Bem, resta-me ir para casa – constatou o
derrotado de tão desafiante duelo.
- Kaheng, o segredo é embebedar o homem
que te cobiça.
O amigo riu-se.
Linda seguiu viagem até ao último destino
da noite, casa. No tuk tuk despediu-se de Wild Bill. Na hora da sua ida,
passearam-se como nos primeiros dias em que se conheceram.
Um abraço forte foi deixado para trás. Uma
admiração mútua a florescer.
- Admiro-te como admiro a minha filha. Parecem
feitas da mesma fibra.
- Eu... quem me dera ter tido um pai tão porreiro
como tu...
Wild Bill seguiu caminho até casa. A
família espera-o. E ele vai cheio de histórias para contar.